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Todos os elfos de Tolkien possuem pele clara?

Atualizado: 22 de fev. de 2022



Traduzido por Franz Brehme e revisado por Caio Silva



Na imagem: “Not my Tolkien Interpretation” – “Não é minha interpretação de Tolkien”.
Nem todos os elfos de Tolkien possuem pele branca. Os debates dos fãs de Tolkien nunca são resolvidos porque os fatos inconvenientemente contestam as verdades inalienáveis às quais os fãs se agarram tão apaixonadamente. Na imagem: “Not my Tolkien Interpretation” – “Não é minha interpretação de Tolkien”.

Nem todos os elfos de Tolkien possuem pele branca. Os debates dos fãs de Tolkien nunca são resolvidos porque os fatos inconvenientemente contestam as verdades inalienáveis às quais os fãs se agarram tão apaixonadamente.


Pergunta: Todos os elfos de Tolkien possuem pele clara?

Resposta: A resposta curta é “não”. Nem J.R.R. Tolkien era racista ou um supremacista branco. Todos os Elfos de Tolkien não possuem pele clara. Mas não vou fornecer citações para explicar a resposta. Eu vou citar a pergunta que eu recebi em (quase) sua inteireza, mas então irei tratar do que eu sinto que é o assunto mais profundo.


“No momento há um debate se desenrolando no [SEU FORUM AQUI]...


Atualmente, no jogo, os jogadores só podem fazer personagens élficos com tons de pele caucasianos. Essa limitação está sendo defendida por um grupo de jogadores que parecem sugerir que a pele clara é intrínseca aos elfos de Tolkien e à cultura original etnicamente homogênea do norte da Europa que os imaginou. Eles parecem sugerir que sem pele branca eles não seriam mais elfos.


A posição contrária sugere que Tolkien realmente gasta muito pouco tempo descrevendo tons de pele élficos e não é uma parte intrínseca da identidade ou papel deles na história. Portanto, podemos tomar liberdade criativa enquanto leitores e intérpretes para mostrar mais diversidade nos tons de pele dos personagens élficos em nome da inclusão. Eles também sugerem que o mundo antigo de onde os mitos vieram não era tão etnicamente homogêneo como muitas vezes se faz parecer.


Minha pergunta para você é quem está mais correto aqui? Existe um lugar para elfos de cor no Senhor dos Anéis? Essa liberdade criativa em particular é uma que Tolkien teria aprovado ou condenado? Gostaria de deixar claro que não estou tentando sugerir que Tolkien é racista, mas creio ser preocupante que as pessoas interpretem seu trabalho para justificar a exclusão de personagens de cor [POC] em narrativas de fantasia. Obrigado pelo seu tempo."


Quem está correto? Na minha opinião, NENHUM lado está correto.


Isto é como Jeff LaSala do TOR.com alegando que a evidência sobre as orelhas pontudas dos elfos de Tolkien é inconclusiva. Inconclusivo meu traseiro escuro peludo. Em nenhuma história publicada em QUALQUER LUGAR algum Elfos descrito por J.R.R. Tolkien possui orelhas pontudas (https://middle-earth.xenite.org/do-tolkiens-elves-have-pointy-ears/). As orelhas pontudas são apenas uma asneira inventada. Tolkien rejeitou a ideia de colocar orelhas pontudas em seus elfos. Distorcer uma carta sobre orelhas de Hobbit não vai mudar isso.


E o que isso tem a ver com a cor de pele élfica, você pode perguntar? Essas perguntas são do mesmo tipo o debate sobre Asas de Balrogs. Alguém arrancou um pedaço de texto do livro e usou isso para justificar o que, por falta de uma expressão melhor, é uma COMPLETA BABOSEIRA.


Lamento se os designers de jogos não permitem que as pessoas criem elfos com os atributos físicos que elas desejam. Eu poderia citar os livros o dia todo pelos próximos 50 posts do blog e isso não mudaria uma opinião sobre o que Tolkien tem a dizer sobre a cor da pele élfica. O fato de que ninguém NUNCA encontrou um elfo de Tolkien com orelhas pontudas não impede metade dos fãs de Tolkien no mundo de argumentar ad nauseum que os elfos de Tolkien têm orelhas pontudas.


As pessoas vão simplesmente inventar merda e discutir sobre isso pelos próximos 100 anos. Quando me envolvi pela primeira vez nas Guerras Flamejantes de Tolkien, há mais de 20 anos, DEZENAS de pessoas me enviaram e-mails e imploraram para que eu parasse de discutir com idiotas e tolos. Acho que eles não perceberam que estavam implorando e suplicando a alguém tão idiota e tolo quanto. Levei vários anos para aprender essa lição.


Isso não vale a pena discutir. Não há lado “certo” ou “errado” nesses debates porque, francamente, ninguém presta atenção ao que J.R.R. Tolkien escreveu sobre muitos desses assuntos.


Imagine um arco-íris. Cada cor no arco-íris representa uma descrição diferente de um [CONCEITO DE TOLKIEN]. O que você obtém com todos os livros e notas e ensaios aleatórios que vieram à luz nos últimos 70 anos são ARCO-ÍRIS DE DESCRIÇÕES. Em quase todos esses debates, você pode encontrar pelo menos 1 passagem de texto obscuro que EM ALGUM LUGAR concorda com o ponto de vista escolhido. Isso é tudo o que é preciso para as pessoas insistirem presunçosamente que DEVEM estar corretas.


Não existe um cânone para a Terra-média porque ninguém definiu um cânone com o qual a maioria (muito menos todos) dos leitores, comentaristas e adaptadores de Tolkien concordam.


Quem deveria resolver esses argumentos? A lógica e os próprios textos falharam em resolver os debates.


Se você se decide jogar um jogo que não permite elfos de pele escura, no melhor dos casos, você precisa construir um argumento lógico para os designers do jogo e viver com qualquer que seja a decisão final deles.


A Terra-média não é baseada na Europa nórdica


Deixe-me abordar o outro ponto que você levanta. E embora eu goste de comentários neste post (mesmo pontos de vista opostos – só para ficar claro: diatribes carregadas de palavras profanas me acusando de ser um vitimista e lacrador ou o que quer que seja serão excluídas de pronto), não responderei a ninguém que quer discutir comigo sobre este ponto. Você pode dar sua opinião abaixo e você terá a última palavra no que diz respeito ao que importa a este artigo.


A Terra-média não é a Europa e a Europa não é a Terra-média. TODAS as raças e personagens nas histórias da Terra-média são INVENTADOS, raças fictícias, tribos, personagens e eles não são uma versão levemente alterada de algo que se possa buscar na história real.


Os melhores estudiosos de Tolkien no mundo (e muitos de menor habilidade e conhecimento) abordaram a questão de quais fontes Tolkien usou para seus elfos. Acho justo dizer que o consenso MAIORITARIO favorece uma mistura de influências celtas e nórdicas/germânicas. Já me deparei com alguns argumentos a favor de influências eslavas. Pode até haver algumas outras influências postuladas que eu tenha esquecido. Mas essas são apenas influências. O Senhor dos Anéis não é uma narrativa atualizada de nenhum mito ou história específica do passado. É uma coisa nova, comparada a todas aquelas coisas antigas com as quais as pessoas a associam.


Se assumirmos, para fins de discussão, que um consenso majoritário sobre qualquer elemento da Terra-média (uma raça, tribo ou região) é claramente rastreável a uma região específica da Terra histórica, segue-se que a ficção deveria representar essa fonte de forma o suficiente a garantir sua identificação adequada dessa conexão. Caso contrário, todas as apostas serão canceladas e as suposições do leitor não contam.


Exemplo: Está bem claro que os Rohirrim são fortemente influenciados pelos anglo-saxões. Se liga!


E, ainda, J.R.R. Tolkien escreveu em numerosas ocasiões que a Terra-média é TODA a Terra – “redonda e inescapável, as terras habitáveis ​​dos homens”. Mesmo se você limitar suas ideias às lentes da mitologia nórdica (que é muito escassa em detalhes), essa mitologia pretendia explicar o mundo inteiro tanto quanto os povos escandinavos estavam conscientes dele e o entendiam.


Esse é o propósito de QUALQUER mitologia – explicar as coisas em termos compreensíveis. Os escandinavos não passaram muito tempo na África e no leste da Ásia enquanto elaboravam as histórias que englobavam seus mitos. Mas você pode encontrar exemplos de como seus mitos vão muito além das metáforas e estereótipos (tropos) comuns que a maioria dos leitores associa a Tolkien. Meu artigo “Quem foi Narvi, Criador das Portas de Durin?” (https://middle-earth.xenite.org/who-was-narvi-the-maker-of-the-doors-of-durin/) vai muito mais fundo no mito e na história nórdica do que você encontrará em quase qualquer discussão online sobre Tolkien.


Se os escandinavos puderam incluir todas as terras e tribos de homens (diferentes deles) em seus mitos e histórias, por que os fãs de Tolkien não podem fazer o mesmo?


J.R.R. Tolkien sugeriu muitas influências não escandinavas e não europeias na Terra-média, incluindo, mas não se limitando a Bizâncio, Israel, África, Índia, Egito, culturas eslavas e muito mais.


Se você se flagrar discutindo com alguém sobre a cor de pele na ficção de Tolkien, corra para longe. Corra para bem longe. Eles não querem ser convencidos, em que pese as histórias publicadas. Você não pode mudar esse tipo de opinião.


O Uso da Cor de Pele por Tolkien era Estratégico


Se ele colocasse pele escura em um personagem, havia uma razão para isso, geralmente uma razão “natural”. Alguns hobbits e gondorianos possuíam pele mais escura porque passavam mais tempo ao ar livre (presumivelmente) do que outros de sua espécie. Mas a história fictícia de Tolkien implica que, ao longo do tempo, as cores de pele mais escuras se tornaram traços herdados dentro de tribos ou grupos étnicos, porque é isso que acontece naturalmente.


Manual de combate de 1500 - Alemanha
Manual de combate de 1500 - Alemanha

Não há absolutamente nenhuma evidência de que J.R.R. Tolkien queria que sua ficção representasse alguma ideia descarada de “pureza racial”. Nossa... Todo grande conto da Terra-média é sobre alguém cruzando essas barreiras e desafiando convenções. Em termos de politicamente correto, minha opinião é que Tolkien era um rebelde que não pensava muito nas pessoas que hoje seriam descritas como supremacistas brancos.


Ele se especializou em estudar línguas germânicas, mas isso não significa que ele via a si mesmo como um representante de uma raça superior. Suas cartas revelam um homem de pensamento profundo que testemunhou de perto as coisas terríveis que os homens fazem uns aos outros. Ele foi tão profundamente afetado por esse mal que até mesmo seus “bons” Elfos cometeram atrocidades horríveis uns contra os outros.


Manual de combate de 1400 - Alemanha
Manual de combate de 1400 - Alemanha

Ninguém pode vencer esses argumentos. Mesmo as pessoas que defendem Tolkien contra alegações de racismo falharam em convencer o público em geral, em que pese as longas citações e argumentos lógicos cuidadosamente construídos. Fatos e lógica raramente são relevantes para as verdades em que as pessoas querem acreditar.


Adendo: Sobre a Citação do Apêndice de O Senhor dos Anéis


Uma passagem de O Senhor dos Anéis, “II - Da Tradução” no Apêndice F, está circulando pela Internet como prova de que todos os elfos de Tolkien eram de pele clara. A passagem diz:


“Eram uma raça elevada e bela, os Filhos mais velhos do mundo, e entre eles os Eldar eram como reis, os que agora se foram; o Povo da Grande Jornada, o Povo das Estrelas. Eram altos, de pele clara e olhos cinzentos, apesar de terem as madeixas escuras, exceto na casa dourada de Finrod; e suas vozes tinham mais melodias que qualquer voz mortal que se ouça agora.” [1]


No entanto, essa passagem está errada, de acordo com Christopher Tolkien. Ele explica o que aconteceu em O Livro dos Contos Perdidos, Parte Um[2]:


Eu concluo este comentário com uma nota sobre o uso que meu pai fez da palavra Gnomos para os Noldor, que nos Contos Perdidos são chamados de Noldoli. Ele continuou a usá-lo por muitos anos e ela ainda aparece em edições iniciais de O Hobbit.


Em um rascunho para o parágrafo final do Apêndice F de O Senhor dos Anéis, ele escreveu:


Às vezes (não neste livro) tenho usado “Gnomos” por Noldor e “gnômico” por noldorin. Fiz isso porque, para alguns, “Gnomo” ainda sugerirá conhecimento. ora, o nome alto-élfico desse povo, Noldor, significa aqueles que sabem, pois dentre os três clãs dos Eldar, desde seu começo, os Noldor sempre se distinguiram, tanto por seu conhecimento das coisas que são e foram neste mundo, quanto por seu desejo de conhecer mais. Porém não se assemelhavam de nenhum modo aos Gnomos da teoria erudita, nem da imaginação popular, e agora abandonei essa representação por demasiado enganosa. Pois os Noldor pertenciam a uma raça elevada e bela, os Filhos mais velhos do mundo, que agora se foram. Eram altos, de pele clara e olhos cinzentos, e suas madeixas eram escuros, exceto na casa dourada de Finrod...


No último parágrafo do Apêndice F, conforme publicado, a referência a 'Gnomos' foi removida e substituída por uma passagem explicando o uso da palavra Elfos para traduzir Quendi e Eldar, apesar da diminuição da palavra em inglês. Esta passagem - referindo-se aos Quendi como um todo - continua, no entanto, com as mesmas palavras do rascunho: “Eles eram uma raça elevada e bela, e entre eles os Eldar eram como reis, os que agora se foram: o Povo da Grande Jornada, o Povo das Estrelas. Eram altos, de pele clara e olhos cinzentos, apesar de terem as madeixas escuras, exceto na casa dourada de Finrod...”


Assim, essas palavras que descrevem característica de rosto e cabelo na verdade foram escritas apenas para os Noldor e não para todos os Eldar: de fato, os Vanyar tinham cabelos dourados, e foi da mãe vanyar de Finarfin, Indis, que ele, Finrod Felagund e Galadriel, seus filhos, tiraram seus cabelos dourados que os distinguiam entre os príncipes dos Noldor. Mas eu sou incapaz de determinar como surgiu essa extraordinária perversão de sentido.


O nome Finrod na passagem no final do Apêndice F agora está errada: Finarfin era Finrod, e Finrod era Inglor, até a segunda edição de O Senhor dos Anéis e, neste caso, a mudança foi negligenciada.


O fato de mais de um erro de edição aparecer no texto que as pessoas usam para argumentar (erradamente) que todos os elfos de Tolkien são de pele clara nunca é mencionado nas citações e memes escolhidos a dedo. Não se deixe enganar por pessoas que deliberadamente omitem informações importantes.


[1] N.T.: Citação que segue está na página 1621 de O Retorno do Rei, edição da Harper Collins Brasil. Nesta edição, porém, está escrito Finarfin, não Finrod. A explicação segue ao longo do texto traduzido. [2] N.T.: The Book of Lost Tales, Part One, o primeiro livro da série A História da Terra-média, cujo processo de tradução tem sido amplamente divulgado pela Harper Collins Brasil e seu time de tradutores. De antemão peço desculpas pelas diferenças que certamente constarão da versão a ser publicada. A tradução, portanto, é livre e é deste tradutor.


Bônus


Você pode conferir esta tradução no canal amigo Tolkien Talk. Estréia dia 23/02/2022


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