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Foto do escritorFranz Brehme

Reflexões sobre 2019


Não sou muito propenso a fazer retrospectivas públicas da minha vida pessoal, mas acredito que este ano foi tão atípico e cheio de coisas que, talvez, seja o caso de expor um pouco minhas experiências e reflexões.


Foi um ano de cumprir muitos “primeiro ano” de coisas importantes: um ano de casado, um ano morando em outro país, um ano que minha mãe partiu, um ano vivendo apenas com o esforço do trabalho da minha esposa (e eu ajudando-a)...


Mas mais que isso: foi um ano para me mostrar que é possível viver sem estar preso ao sistema que nos aliena das coisas simples da vida... de poder sentir a natureza, de poder refletir sobre os detalhes daquilo que nos tornam integrantes do ambiente, de poder me debruçar sobre mim mesmo. Foi um ano não para saber o que vou fazer daqui em diante, mas para ter certeza de tudo aquilo que não quero para mim.


Desde que deixei a profissão jurídica, na segunda metade de 2017, nunca fui tão feliz como neste ano. Um ano de plenitude em mim mesmo, de que não importa qual seja a labor exercida, estou produzindo de forma livre e muito mais harmoniosa do que antes.


Um ano de equilíbrio alimentar, de restrição econômica, de incertezas de saber de onde viria o dinheiro para fechar as contas, mas que, de uma certa forma, me provou que se você fizer o seu de forma sincera e desinteressada, as forças conspirarão a seu favor, de que os deuses proverão, de modo que nunca passamos necessidade, embora, por vezes, parecesse que as coisas ficariam complicadas e não houvesse ideia/perspectiva sobre de onde viria o sustento.


Também foi um ano de confirmar convicções e de tornar cristalina a certeza de que estou com uma pessoa que está disposta a ir comigo aos confins do Universo para ser feliz, de que ela é alguém que não deixa de ser quem é apenas para estar comigo, mas que somos dois caminhando, lado a lado, com um propósito comum. É aquela história: nos serviços domésticos, não é ela ou eu que ajuda um ao outro, senão que somos dois que trabalham pelo bem-estar do ambiente familiar; fazemos porque reconhecemos a necessidade de os dois trabalharem pela família, ainda que estejam os dois morrendo de cansaço no fim do dia.


Foi a primeira vez que vi e vivi uma revolução social, um toque de recolher, de ver o povo lutar por querer uma mudança no sistema, de enfrentar lacrimogêneo, de ver o pior lado repressivo do Estado. De ver como as pessoas podem mostrar que ainda existe a humanidade e que ela tem algo de bom, por mais que, uma minoria, ainda queira se manter no alto de seus privilégios, sem se misturar com o povo.


Também foi o ano de ver como é viver em um local com as quatro estações superbem definidas e que, com isso, me fez reconectar à minha espiritualidade e ancestralidade. Assim sendo, pude entender por que os ancestrais da minha crença valorizavam tanto as trocas de estações e cujos interstícios eram, praticamente, sagrados. Talvez tanto quanto os próprios deuses, pois era da Natureza que tiravam o material básico para seu sustento e, daí, conseguir desenvolver suas atividades.


Este ano também pintei e desenhei muito pouco, por pura insegurança... Mas até um artigo sobre Tolkien, com um grande amigo, escrevi! XD e que também posso trabalhar lavando cozinhas, pratos, pintando portões, ajudando em construção civil e serralheria, costurando, bordando, vendendo, trabalhando com as mãos.


Pude sentir e perceber que sou uma pessoa completamente diferente de quem eu era um, dois três anos atrás. De ver que posso fazer aquilo que me propuser a fazer, ainda que durante muito tempo ainda vacile e trema diante das coisas, de grandes períodos de insegurança e de me sabotar.


Mas, mais que isso, as experiências deste ano me mostraram que sou capaz de enfrentar muita coisa e fazer muita coisa que sequer imaginava que era possível.


Um ano meio que sabático, para me desconectar de um monte de coisas/situações/experiências, que me permitiu estar aqui, neste momento, com uma porta aberta para uma pluralidade de experiências. Mas que me permitiu reencontrar aquilo que mais quero para mim e minha forma de expressão: a arte, seja ela como for.


Sem arte não há Franz. E o mar é meu guia e fonte eterna de inspiração. Mánannan e todos os deuses: obrigado por permitirem que eu viva olhando o Pacífico.


E aproveito este momento para agradecer a todos aqueles que me conduziram a este momento: se não fosse pelo seu egoísmo e suas maquinações, eu não estaria aqui, pleno de mim mesmo, com quem amo, em um país acolhedor. Mas também agradeço a todos os que me deram a mão, ainda que sem perceber, que me abriram as portas de sua casa, de seu trabalho, de sua vida para me ajudar. Nos momentos mais desoladores, a mão amiga apareceu e me arrebatou do poço escuro que me engolia: eu mesmo.


Mas foi dessa escuridão que pude valorizar ainda mais a luz e as cores. Como se diz quando você estuda pintura, artes, desenho, composição, imagens, quando tem dúvida do que fazer, de que cores usar, de como fazer as transições, volte a estudar/mapear/trabalhar as sombras, pois só assim você conseguirá acertar os valores tonais das luzes. Mas as luzes mais altas, deixe para colocar essas apenas no final, do contrário, poderá deixar de ajustar bem os valores tonais mais baixos.


Justamente por isso que descobri outra verdade artística: é perto das luzes altas onde você será capaz de ver a real cor do objeto admirado e que pretende retratar. E, então, pude perceber, em meio a essa brincadeira de trabalhar entre sombras e luz, entre claro e escuro, em meio a espaços negativos, como amadurecer e como desenvolver esse riquíssimo e imprevisível processo artístico chamado viver...


Amigos, que jornada!

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