1. Introdução
Este trabalho começou como uma tradução e acabou virando uma complementação do incrível trabalho feito por James, do blog “A Tolkienist Perspective”. É claro que, de forma alguma, se pretende esgotar o assunto.
Lembro, ainda, que este trabalho já foi apresentado por mim durante a NazgûlCon, em 2014 e, agora em 2019, fiz uma longa e detalhada revisão do texto. As citações do texto utilizam ainda a tradução da editora Martins Fontes, meu texto, contudo, alberga as expressões da nova edição a ser publicada pela editora atualmente responsável pela obra de John Ronald Reuel Tolkien no Brasil, a HarperCollins Brasil.
Começo a discussão deste artigo, para além do que o artigo origina fez, com uma citação do início da obra “O Senhor dos Anéis” (SDA), quando o leitor ainda não tem ideia da trama, dos elementos que aos poucos serão desvelados, quando todo o mal, a Sombra e o Inimigo não passam de um rumor distante - ao menos para os pacíficos hobbits do Condado:
“Mas agora Frodo sempre encontrava anões estranhos de países distantes, procurando refúgio no Oeste. Estavam preocupados, e alguns deles falavam aos sussurros sobre o Inimigo e a Terra de Mordor.
Os hobbits só conheciam esse nome em lendas do passado escuro, como uma sombra no fundo de suas memórias; mas era um nome agourento e perturbador. Parecia que o poder maligno da Floresta das Trevas havia sido expulso pelo Conselho Branco para reaparecer com força maior nas velhas fortalezas de Mordor. A Torre Escura tinha sido reconstruída, dizia-se. Dali o poder estava se espalhando em todas as direções, e lá no extremo oriente e ao sul havia guerras e o medo crescia. Os orcs se multiplicavam de novo nas montanhas. Os trolls estavam longe de suas terras e tinham deixado de ser estúpidos; eram astutos e tinham armas terríveis. E havia murmúrios sobre criaturas ainda mais horríveis que todas essas, mas que não tinham nome.” (grifei)
- O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Livro I, Capítulo II, A Sombra do Passado
Desta citação é possível notar que, por mais sussurradas que tais notícias possam ser, existem indícios que remetem à existência de um mal concreto, de uma força sombria agindo em terras distantes. Observa-se:
(a) a existência de um “poder maligno da Floresta das Trevas” (o Necromante d’OHobbit, Sauron). Descobrimos que a fortaleza que lá existe não está mais vazia: em verdade, persiste um centro de comando lá, conforme veremos adiante;
(b) a existência de “velhas fortalezas” em Mordor, da “Torre Escura” e sua reconstrução;
(c) da Torre Escura havia um poder se espalhando em todas as direções;
(d) orques se multiplicando; e
(e) trols agora eram astutos e armados, ou seja, não são mais como os trols de O Hobbit. Mas: quem os armou?
Este é o primeiro indício de que algo maior que está por vir. Aos poucos, no desenrolar dos capítulos, serão apresentadas informações mais concretas ao leitor e, progressivamente, será possível construir um quadro cada vez mais compreensivo sobre a real dimensão da ameaça de Sauron[1].
Uma simples frase de O Retorno do Rei demonstra que Mordor não era apenas um amontoado desordenado de caras maus. Havia organização (alguma) organização:
“— E de quem é a culpa? — disse o soldado. — Minha é que não. Isso vem Lá de Cima.” (g.n.)
– O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 6, Capítulo 2, A Terra Da Sombra
Conforme ficará mais claro no decorrer deste texto despretensioso, a estrutura militar de Mordor é altamente hierarquizada e sólida, embora existam algumas dificuldades para montar essa estrutura, conforme mostraremos adiante.
2. Estrutura hierarquizada
Conforme proposto pelo autor do blog “A Tolkienist’s Perspective”, não há dúvidas de que no topo dessa cadeia hierárquica está Sauron, em Barad-dûr, o centro geográfico de onde dimana o poder da Sombra.
Desta forma, o primeiro centro geopolítico de poder de Sauron é a própria Torre Escura, de onde o Senhor do Escuro emite suas ordens. Não é demais lembrar que o título da obra refere-se diretamente a ele: afinal Sauron é o Senhor dos Anéis.
Mas embora não existam dificuldades em determinar qual o ponto de origem do poder na terra de Mordor, os problemas surgem quando se tenta desvendar a estrutura de comando hierárquico abaixo dele, em especial com relação aos Nazgûl, à Boca de Sauron, as relações entre estes e as demais forças subordinadas.
Do fragmento abaixo, extraído de As Duas Torres, é possível concluir que mesmo os orques tinham uma ideia de quem estava no topo da hierarquia:
“— Nazgûl, Nazgûl! — disse Grishnákh, tremendo e lambendo os lábios, como se a palavra tivesse um gosto ruim que ele saboreava com sofrimento.
— Você fala do que está muito além do alcance de seus sonhos sujos, Uglúk disse ele. — Nazgûl! Ah! Tudo o que fingem ser! Um dia você vai desejar não ter dito isso.
— Seu macaco! — rosnou ele com ferocidade. — Você precisa saber que eles são a menina-dos-olhos do Grande-Olho. Mas o Nazgûl alado, por enquanto não, ainda não. Ele não permitirá que se mostrem do outro lado do Grande Rio. Não tão cedo. Eles são para a guerra — e outras finalidades.
— Parece que você sabe muito — disse Uglúk, — Mais do que lhe convém, eu acho.” (grifei)
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 3, Capítulo III, Os Uruk-Hai
Ora, é visível que Sauron é o líder e os Nazgûl são, pelo menos, os “preferidos” do grande chefe: é possível presumir que eles possuem uma posição elevada (quem sabe, até mesmo, especial ou destacada) dentro da estrutura das forças do Inimigo.
Contudo, ao que parece, Grishnákh não respondia diretamente para os Espectros do Anel. Para quem então? Trataremos de encontrar uma resposta para tanto mais adiante.
Outras informações relevantes podem ser obtidas no diálogo entre Gorbag e Shagrat, ao final de As Duas Torres. Veja-se:
“— Olá! Gorbag! Que está fazendo aqui em cima? Já guerreou bastante por hoje?
— Ordens, seu brutamontes. E o que você está fazendo, Shagrat? Cansado de ficar espreitando lá em cima? Pensando em descer e lutar?
— Ordens para você. Estou no comando desta passagem agora.
— Então fale com respeito. Que tem a relatar?
— Nada.” (grifei)
(...)
“— Oho! Então eles não lhe disseram o que esperar? Eles não nos dizem tudo o que sabem, dizem? Nem metade. Mas podem cometer erros, até mesmo os Chefões[2] podem.
— Pssiu. Gorbag! — Shagrat diminuiu o tom da voz, de forma que mesmo com sua audição estranhamente aguçada Sam podia apenas ter uma idéia do que estava sendo dito.
— Eles podem, mas tem olhos e ouvidos por toda a parte; alguns entre meu grupo, muito provavelmente. Mas não há dúvidas sobre isso, eles estão preocupados com alguma coisa. Os Nazgûl lá embaixo estão, pelo que você me contou; e Lugbúrz também está. Alguma coisa quase escapou.
— Quase, você diz! — disse Gorbag.
— Está certo — disse Shagrat —, mas vamos falar sobre isso mais tarde. Espere até chegarmos ao Caminho de Baixo. Lá há um lugar onde podemos conversar um pouco, enquanto os rapazes continuam avançando.” (grifei)
(...)
“— Não, eu não sei — disse a voz de Gorbag. — As notícias chegam voando mais rápido do que qualquer pássaro, geralmente. Mas não quero saber como isso acontece. É mais seguro não perguntar. Grr! Aqueles Nazgûl me dão arrepios. E tiram a pele de seu corpo assim que olham para você, e o deixam morrendo de frio no escuro do outro lado. Mas Ele gosta deles; são seus favoritos atualmente, então não adianta reclamar. Eu lhe digo, não é brincadeira trabalhar lá embaixo na cidade.” (grifei)
(...)
“— Você deveria ter visto: um sujeitinho magro e preto; parecido com uma aranha, ou talvez mais parecido com uma rã morta de fome. Já esteve aqui antes. Veio de Lugbúrz da primeira vez, anos atrás, e recebemos ordens de Lá de Cima para deixá-lo passar. Já subiu a escada uma ou duas vezes desde então, mas nós o deixamos em paz. Parece que tem algum entendimento com a Nobre Senhora. Suponho que não seja bom de comer: ela não se importaria com ordens de Lá de Cima. Mas que bela guarda você tem no vale: ele esteve aqui em cima um dia antes de toda essa balbúrdia. Nós o vimos no inicio da noite passada. De qualquer forma, meus rapazes reportaram que a Nobre Senhora estava se divertindo um pouco, e essa noticia me pareceu satisfatória, até que a mensagem chegou.” (grifei)
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 4, Capítulo X, “As Escolhas De Mestre Samwise”
O primeiro ponto a destacar está no primeiro trecho “ordens para você” e “ordens Lá de Cima”. Ou seja: o trecho confirma que havia, EFETIVAMENTE, um sistema de hierarquia e comando. Alguém apenas pode receber ordens de alguém que ele reconhece como sendo seu superior, seja pelo medo ou pelo reconhecimento.
Os “títulos” utilizadas por Gorbag e Shagrat também dão indicação da existência de uma organização autoritária:
(i) “Chefões” (“Top Ones”): seriam eles os Nazgûl? São os únicos servos de Sauron que conhecemos a quem é possível se referir no plural. Contudo, pode ser a ordem de comando toda, abaixo de Sauron (ou até mesmo incluindo Sauron);
(ii) “Ele” (com maiúscula): uma alusão ao Senhor do Escuro;
(iii) “favoritos”: sem dúvida que os Nazgûl são os favoritos de Sauron, mas a frase diz que “atualmente” são seus favoritos. Sinal de que no passado não eram. Como conseguiram esse respeito? Quem eram os favoritos antes? Muitas questões surgem do emprego da palavra “atualmente”; e
(iv) “Lá de Cima”: pessoalmente, penso que pode ser de alguma das fortalezas escuras, Minas Morgul ou (mais provavelmente) Barad-dûr.
2.1 As Fortalezas Negras
Como dito acima, não há dúvidas de que Barad-dûr era o centro de comando das forças de Sauron, até mesmo porque ele mantinha seu trono lá.
Contudo, Tolkien deixa entrever uma espécie de cadeia de comando entre as fortalezas de Barad-dûr e Minas Morgul:
“— Mau negócio — disse Gorbag. — Olhe aqui... nossos Vigilantes Silenciosos já estavam preocupados há mais de dois dias, isso eu sei. Mas minha patrulha só foi receber ordens para sair no dia seguinte, e nenhuma mensagem foi enviada a Lugbúrz: isso devido ao Grande Sinal que subiu, e o Nazgûl Supremo que saiu para a guerra, e tudo aquilo. E conseguiram que Lugbúrz prestasse atenção por um bom tempo, pelo que me disseram.”(grifei)
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 4, Capítulo X, “As Escolhas De Mestre Samwise”
O Grande Sinal é enviado de Barad-dûr, no momento em que Gollum, Sam e Frodo estão para subir as escadas de Cirith Ungol. O “Nazgûl Supremo” do fragmento certamente é o Rei dos Bruxos de Angmar, o líder dos nove.
A cidadela de Minas Morgul era comandada pelo Capitão Negro, o Senhor de Minas Morgul, o próprio Rei dos Bruxos. De modo que é possível presumir que, após o Grande Sinal, estava autorizada a marcha pelo próprio Sauron, que culminaria na marcha das forças de Sauron até Minas Tirith.
Vale ressaltar que Capitão é um posto, dentro da maioria das estruturas militares atualmente existentes, acima de Tenente. Voltaremos a essa ideia adiante.
Importa notar, por fim, que Dol Guldur também é uma fortaleza negra submetida ao poder de Mordor e Sauron:
“2951. Sauron declara-se abertamente e concentra seu poder em Mordor. Começa a reconstrução de Barad-dûr. Gollum volta-se na direção de Mordor. Sauron envia três dos nazgûl para reocuparem Dol Guldur. Elrond revela a "Estel" seu verdadeiro nome e linhagem, e lhe entrega os fragmentos de Narsil. Arwen, recém-chegada de Lórien, encontra Aragorn na floresta de Imladris. Aragorn parte para as Terras Ermas.”
- O Retorno do Rei, Apêndice B
No relato “A” sobre a caçada do Anel, em Os Contos Inacabados, bem como em outras variações do mesmo relato, temos a confirmação de que era Khamûl, efetivamente, o habitante de Dol Guldur. Contudo, ao invés de três, eram dois os Nazgûl: ele e um outro mensageiro que fazia a comunicação com Barad-dûr.
“Ora, poucos podiam resistir até mesmo a uma só daquelas cruéis criaturas, e (como Sauron julgava) ninguém podia resistir-lhes quando estavam reunidos sob o comando de seu terrível capitão, o Senhor de Morgul. No entanto, para o propósito atual de Sauron, tinham o seguinte ponto fraco: era tão grande o terror que os acompanhava (mesmo invisíveis e despidos) que sua chegada podia logo ser pressentida, e sua missão adivinhada, pelos Sábios.
Assim foi que Sauron preparou dois golpes — nos quais mais tarde muitos viram as origens da Guerra do Anel. Foram desferidos juntos. Os orcs atacaram o reino de Thranduil com ordens de recapturar Gollum; e o Senhor de Morgul foi enviado abertamente para combater contra Gondor. Essas ações ocorreram perto do final de junho de 3018. Assim Sauron testou a força e o preparo de Denethor, e descobriu que eram maiores do que esperara. Mas isso pouco o perturbou, pois usara pouca força no ataque, e seu principal objetivo era que o surgimento dos Nazgûl parecesse apenas parte de sua política de guerra contra Gondor.
Portanto, quando Osgiliath foi tomada e a ponte foi destruída, Sauron deteve o ataque e ordenou aos Nazgûl que iniciassem a busca do Anel. Mas Sauron não subestimava os poderes e a vigilância dos Sábios, e mandou que os Nazgûl agissem com o máximo sigilo possível. Naquela época, o Líder dos Espectros do Anel habitava em Minas Morgul com seis companheiros enquanto seu segundo, Khamûl, a Sombra do Leste, habitava em Dol Guldur como lugar-tenente de Sauron, com mais um como seu mensageiro.”
- Contos Inacabados, A caçada ao Anel: (i) Da viagem dos Cavaleiros Negros, de acordo com o relato que Gandalf fez a Frodo
Dol Guldur, portanto, está claramente abaixo das duas outras torres: Barad-dûr e Minas Morgul, já que além de ficar fora de Mordor, era de incumbência do segundo em comando dentre os Nazgûl comandar a fortaleza negra da Floresta das Trevas.
Interessante notar o poder que Dol Guldur tinha na época da Guerra do Anel, que nos faz pensar o quão forte eram as outras duas fortalezas de Mordor:
"Quando pisou finalmente na alta plataforma, Haldir pegou sua mão e o virou para o Sul.
— Olhe para este lado primeiro — disse ele.
Frodo olhou e viu, ainda a certa distância, uma colina com várias arvores grandes ou uma cidade de torres verdes: o que era exatamente não sabia dizer. Dali lhe parecia emanar o poder e a luz que mantinham toda aquela região em equilíbrio. Desejou de repente voar como um pássaro para descansar na cidade verde. Então olhou para o Leste e viu a terra de Lórien descendo até o brilho claro do Anduin, o Grande Rio. Levantou os olhos acima da linha do rio e toda a luz se extinguiu, e ele estava de volta ao mundo que conhecia. Além do rio a terra parecia plana e vazia, informe e vaga, até que muito na frente se erguia de novo como uma parede, escura e melancólica. O sol que batia em Lothlórien não tinha o poder de iluminar a sombra daquela região alta e distante.
— Ali fica a fortaleza do Sul da Floresta das Trevas disse Haldir. Está incrustada numa mata de abetos escuros, onde as árvores lutam u mas contra as outras e seus ramos apodrecem e definham. No meio, sobre uma colina rochosa, fica Dol Guldur, onde por muito tempo o Inimigo oculto tinha sua moradia. Tememos que agora esteja habitada outra vez, e com um Poder sete vezes maior. Ultimamente uma nuvem negra paira sempre sobre ela. Neste lugar alto você poderá ver os dois poderes que se opõem; e agora ambos sempre lutam através dos pensamentos, mas embora a luz perceba o próprio coração da escuridão, seu próprio segredo ainda não foi descoberto. Não por enquanto! — Voltou-se e desceu rapidamente, e os outros o seguiram."
- O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Livro I, Capítulo VI – Lothlórien.
Contudo, fica a dúvida: qual a relação de subordinação entre essas duas torres? Se os “chefões” e as “ordens Lá de Cima” se referem aos Nazgûl, em nome de qual das Torres a autoridade deles se fazia sentir presente? Barad-dûr, a torre de seu Mestre, ou Minas Morgul, sua própria cidade?
2.2 O Rei dos Bruxos de Angmar e a Boca de Sauron
Durante o curso de O Senhor dos Anéis, o Rei dos Bruxo de Angmar recebe muitos nomes, entre eles “Capitão Negro”. Ora, como já foi mencionado acima, o cargo de “capitão” é superior ao cargo de “tenente”.
A Boca de Sauron, por outro lado, é descrito como o Tenente da Torre de Barad-dûr, motivo pelo qual, conforme apontado pelo blog A Tolkienist Perspective, é importante tentar estabelecer sob qual das Torres a autoridade dos Nazgûl é exercida.
Nos livros, não fica claro se “os Chefões” está se referindo ao comando dos Nazgûl em Barad-dûr.
James, do citado blog, faz um exercício interessante: ele parte do pressuposto, para fins das ilações que faz em seu blog, já que sem um marco não seria possível seguir adiante, de que os Nazgûl comandavam Minas Morgul e tinham alta patente na Torre Negra. Para tanto faz a seguinte imagem: Minas Morgul é a residência dos Espectros, enquanto que Barad-dûr é o local de trabalho deles.
Pessoalmente acredito que não dá para colocar todos os Nazgûl em alta patente em Barad-dûr, mas sim apenas o Rei dos Bruxos. Ele é o Capitão Negro. Boca de Sauron é o Tenente de Barad-dûr.
Na hierarquia militar, os outros Nazgûl estariam abaixo do Capitão Negro e, ou ao lado do Boca de Sauron, ou abaixo dele, ou como uma força especial. Sem olvidar: o segundo em poder, dentre os Nazgûl, é o próprio Khamûl.
Mesmo sabendo que partimos de um pressuposto não expresso nos livros, poderíamos pensar em uma estrutura inicial assim:
Sauron
|
Rei dos Bruxos (Capitão Negro e Senhor de Minas Morgul)
|
Nazgûl (força especial igual ou inferior, na hierarquia, à Boca. São a “menina dos olhos de Sauron”) // Boca de Sauron (Tenente de Barad-dûr)
Assim, tendo a pressupor que a estrutura de poder das Fortalezas Negras é a seguinte:
Barad-dûr
|
Minas Morgul
|
Dol Guldur
2.3 Datas e elementos dentro da obra
No Apêndice B de O Senhor dos Anéis, podemos situar a primeira aparição dos Espectros do Anel, já nesta condição, na Segunda Era, e, 2251. A Guerra do Anel se passa cerca de 4208 anos depois disso. Para mais especulações sobre os Nazgûl, aqui.
Sobre a Boca de Sauron, a descrição que se faz deste é a seguinte:
“Era o Tenente da Torre de Barad-dûr, e seu nome não é lembrado em história alguma, pois ele próprio o esquecera, e ele disse: — Sou a Boca de Sauron. — Mas conta-se que ele foi um renegado, que vinha da raça daqueles que eram chamados de Numenorianos Negros, pois eles estabeleceram suas moradias na Terra-média durante os dias do domínio de Sauron, e o adoraram, enamorados pelo conhecimento do mal.” (grifei)
- O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 5, Capítulo X.
Tendo em vista que ele esteve sob influência de Sauron (e era também descendente do povo de Númenor, conhecido por sua longevidade – ainda que com o passar dos anos após a Queda, o tempo de vida destes tenha diminuído, embora ainda mais longevos que os humanos sem relação com a ilha), sua expectativa de vida deve ter excedido os da sua própria estirpe, mas não deve chegar perto ao tempo de “vida” dos Nazgûl.
Provavelmente os Nazgûl tendem à “imortalidade”, embora uma imortalidade escravizada, simulada, artificial. Mantiveram seu poder e capacidade de comando durante milhares de anos; o título de Tenente de Barad-dûr provavelmente pertenceu a mais de um homem corrupto, talvez por alguma lógica ou sistemática de hereditariedade (quem sabe?), antes de ser utilizado por aquele que o utiliza durante a Guerra do Anel.
Isto, porém, nada prova com relação à hierarquia de poder. Sequer há menção escrita quanto a isso.
Ser o emissário do Senhor do escuro e a “voz” do próprio Sauron, sem dúvidas, era uma posição de privilégio e muito alto poder. Não há como ter dúvida disso.
Por outro lado, Tolkien menciona os Nazgûl como “os mais terríveis servos” de Sauron. E isso não significa que eles ocupavam um alto posto na hierarquia do Inimigo.
É possível argumentar (no campo da especulação), ademais, que tendo em vista que os Nazgûl eram mais como espíritos ou espectros, que seu poder físico era limitado e que alguém de muito poder físico (ou comando) poderia reclamar seu lugar sob as ordens diretas de Sauron.
2.3.1 O Tirano do Oeste
Neste ponto, vale remeter a uma citação de O Retorno do Rei. Durante a “conversa” em frente ao Portão Negro, a Boca de Sauron parece seguro da vitória de seu senhor:
“No entanto, deverão [os homens de Rohan] ajudar a reconstruir Isengard, a qual destruíram por capricho, e essa região será de Sauron, e lá seu tenente deverá morar: não Saruman, mas alguém mais digno de confiança.
Olhando nos olhos do Mensageiro, todos leram seu pensamento. Seria ele aquele tenente que reuniria tudo o que restasse do oeste sob seu controle, seria tirano e eles os seus escravos.”
- O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 5, Capítulo X.
Aqui uma demonstração clara do poder que a Boca de Sauron exercia em Mordor. Se a dominação de Sauron fosse bem sucedida, ele teria controle de todas as terras do Oeste e residiria em Isengard como tenente – uma honraria concedida apenas a um servo de alta patente – ou seja, era tido em alta consideração por Sauron.
Neste ponto, vale deixar claro que Isengard e o mago que até então a comandava, não entra na lista das fortalezas negras aqui mencionadas: Saruman seguia seus próprios interesses, ele era uma espécie de agente duplo, tanto com relação a Sauron como ao Conselho Branco, mas sempre em nome próprio, à época da Guerra do Anel. Talvez um aliado de Sauron, mas “não digno de confiança”.
A questão que se coloca: se Sauron tivesse conseguido controle sobre a Terra-média e o Oeste fosse dado à Boca de Sauron (o Leste provavelmente cairia sob domínio direito do Senhor do Escuro), o que os Nazgûl receberiam pela vitória?
Quando recebemos a informação de que eles eram os “maiores servos”, eles eram apenas servos, na acepção literal? Peões usados para espalhar o medo e controlar exércitos em lugar do próprio Sauron no campo de batalha?
Mas não foram eles os responsáveis para preparar o terreno para o retorno de Sauron a Mordor, após o tempo em que ele residiu em Dol Guldur e o Conselho Branco tentou expulsá-lo de lá?
Qualquer que seja a resposta, a citação acima mostra que o Tenente da Torre de Barad-dûr exercia forte influência e seria um dos favoritos do Senhor do Escuro – a menos que a ideia do “Tirano do Oeste” seja apenas um embuste criado por Sauron entre seus mais altos servos (“Sauron o Trapaceiro”)...
2.3.2 Conclusão?
Uma conclusão sobre quem tem a maior patente, o Rei dos Bruxos de Angmar ou o Tenente de Barad-dûr, dependerá de como se encara a questão.
Pode se partir do pressuposto de que Tolkien deu diversas pistas de que os Espectros são os maiores servos de Sauron e que, dentre estes, o Senhor de Morgul era o mais forte.
Ou pode se advogar que a Boca de Sauron era a opção alternativa.
Nenhuma solução está errada. Todas são interpretações válidas, face às evidências literárias.
Apenas para provocar: a Boca de Sauron aparece em cena após a queda do Capitão Negro, de modo que somente havia oito Espectros na ativa então. Há quem diga que é possível que a Boca tenha recebido o anel que era do Rei dos Bruxos... Será? É uma possibilidade interessante, mas não passa do plano da especulação, é claro.
3. Estrutura Militar
Parece não haver dúvida de que a dominação pretendida por Sauron dependia de sua habilidade em manter controle do grande número de suas fileiras usando seus capitães. Orques eram a principal força do Senhor do Escuro e eram eles que iriam fazer a maior parte do trabalho em seu nome.
3.1 Capitães e Comandantes
Conforme já dito, durante toda a obra “O Senhor dos Anéis”, é possível perceber que o exército de Mordor é organizado. Aprendemos que capitães organizavam todo o exército e que eles eram colocados em vários lugares ao redor de Mordor e em divisões orques apropriadas. Dois dos capitães mais famosos são Shagrat e Gorbag – o primeiro era de Cirith Ungol e, o segundo, Minas Morgul.
Shagrat: “— Ordens para você. Estou no comando desta passagem agora.”
“Então, não muito distantes lá dentro, ou pelo menos foi essa a impressão que teve, Sam ouviu as vozes dos dois capitães conversando de novo. Parou para escutar um pouco, talvez esperando descobrir alguma coisa útil. Talvez Gorbag, que parecia pertencer a Minas Morgul, saísse, e então ele entraria sorrateiramente.”
Gorbag: — Ao que tudo indica, Capitão Shagrat, eu diria que há um grande guerreiro à solta, mais provavelmente um elfo,
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 4, Capítulo X.
Mas estes personagens, provavelmente uruks, controlam passagens que, mesmo que não essenciais, dada a guarda de Laracna, ainda assim foram priorizadas por Sauron para serem patrulhadas.
Além dos orques, certamente haveria Homens que ocuparam posição de capitães e provavelmente estes eram os responsáveis por comandar aqueles que vinham do Leste e de Harad, conforme veremos adiante.
3.1.1 Uruks VS Orques
É um fato evidente: há uma diferença entre os Uruk-Hai e os Orques. Os Uruks são mais fortes, mais resistentes e imunes à luz do sol, diferente dos orques menores. Lendo o Senhor dos Anéis é possível perceber que os Uruks ocupam posições mais altas justamente por serem mais fortes.
Tem-se a impressão que estes exercem os cargos principais e cuidam de tarefas importantes. Gorbag parece descrever isso:
— Sim — disse Gorbag. — Mas não conte com isso. Minha cabeça não está muito tranquila. Como eu disse, os Grandes Chefes, bem — sua voz se transformou quase num sussurro —, bem, mesmo os Maiorais podem cometer erros. Alguma coisa quase escapou, diz você. E eu digo, alguma coisa realmente escapou. E temos de ficar de olhos abertos. E sempre os pobres uruks devem consertar a situação quando alguém escapa, e ninguém agradece. Mas não esqueça: os inimigos não nos amam mais do que amam a Ele, e se o derrotarem estaremos acabados também. Mas olhe aqui: quando é que mandaram você sair? (grifei)
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 4, Capítulo X.
Há outra passagem que mostra isso:
“Os orcs que vinham à frente avançavam num trote, ofegantes, com as cabeças baixas. Era um bando das raças menores, sendo levados contra a vontade para as guerras do Senhor do Escuro; só se preocupavam em terminar a marcha e escapar do chicote. Ao lado, subindo e descendo a fila, iam dois da raça cruel e grande dos uruks, estalando açoites e gritando.” (grifei)
– O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 6, Capítulo II
Essa passagem dá forte evidência do poder exercido pelos Uruk nas espécies menores de orques, de modo que é possível assumir, com segurança, que eles estava num patamar superior aos demais.
Vale notar que em Moria, Gandalf observa a presença de Uruks de Mordor:
— Orcs, muitos deles — disse ele. — E alguns são grandes e perigosos: Uruks negros de Mordor. Por enquanto estão parados, mas tem alguma outra coisa lá. Acho que é um grande troll das cavernas, ou mais de um. Não há esperança de escaparmos por ali.
– O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Livro 1, Capítulo V
Com isso, parece que Moria também estava sob o domínio de Mordor ou, quem sabe, Sauron estivesse tentando, ao menos, conseguir algum tipo de aliança estratégica com a Ruína de Dúrin.
Desta forma, podemos aumentar o esquema de hierarquia entre as fortalezas da Sombra:
Barad-dûr
|
Minas Morgul
| |
Dol Guldur Moria
Ou
Barad-dûr
| |
Minas Morgul |
| |
Dol Guldur Moria
3.1.1.1 Grishnákh
Grishnákh é um orque que aparece no começo das As Duas Torres, integrante do grupo que capturou Pippin e Merry para levá-los a Saruman.
Tal grupo de é composto, por assim dizer, de três facções de orques: os do Norte (de Moria, procurando vingança pelas mortes decorrentes da passagem da Comitiva do Anel), os de Saruman (Uruks) e os de Mordor.
Grishnákh é o principal conspirador e líder dos orques de Mordor contra Uglúk (líder dos Uruks de Isengard).
Importa destacar o comportamento de Grishnákh ao final do capítulo III do livro 3, no momento em que os Orques e Uruk-Hai estão cercados pelos Rohirrim e Grishnákh fica sozinho com os dois hobbits. O diálogo é longo, então segue uma pequena versão, resumida e abreviada:
“O pensamento chegou de repente à mente de Pippin, como se capturado diretamente da idéia óbvia do próprio inimigo: “Grishnákh sabe do Anel! Está procurando, enquanto Uglúk está ocupado: provavelmente o quer para si mesmo.”
Merry: ‘Você o quer? E o que daria em troca?’
“— Se eu quero? Se eu quero? — disse Grishnákh, como se estivesse confuso; mas seus braços tremiam. — O que eu daria em troca? Que está querendo dizer?”
Merry: “Se chegarmos a Isengard, não será o grande Grishnákh o beneficiado: Saruman vai tomar tudo o que puder encontrar. Se você quer alguma coisa para si mesmo, agora é o momento de fazermos um trato.”
“Grishnákh começou a ficar zangado… ‘— Estão com ele — um de vocês dois? — rosnou ele.”
“Talvez eles [aqueles em Lugbúrz] concordem comigo, com Grishnákh, o mensageiro em quem confiam; e eu, Grishnákh, digo isto: Saruman é um idiota, e um idiota sujo e traiçoeiro. Mas o Grande Olho está sobre ele.”
– O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, Livro 3, Capítulo III
Grishnákh, portanto, sabia do Anel. Como? Como um simples mensageiro poderia conhecer tão poderoso objeto?
Mesmo que ele tenha sido um orque de alta patente, Sauron certamente não compartilharia qualquer conhecimento que ele tinha sobre seu Anel. Talvez Grishnákh fosse um espião e de alguma forma teve acesso a tal informação.
Independentemente da razão, o fato é que informação não era tão facilmente compartilhada e esta passagem é importante no contexto analisado vez que demonstra que Grishnákh deveria ter algum alto cargo dentro da estrutura militar de Mordor.
3.2 O Exército: Heráldica e Divisões Órquicas
Recapitulando: a principal força de Sauron consistia de orques, com divisões separadas controladas por capitães. Contudo, ao longo de O Senhor dos Anéis é possível encontrar alguns indícios sobre divisões/agrupamentos de diferentes orques.
3.2.1 Orques do Olho Vermelho e Orques de Minas Morgul
Parece claro que há uma distinção entre os orques servindo Sauron (o Olho Vermelho) e aqueles a serviço de Minas Morgul. A base para tais conclusões se origina, novamente, do capítulo “A Torre de Cirith Ungol”, em o Retorno do Rei. Após a briga na torre, o diálogo se dá entre Shagrat e um outro orque, Snaga:
Shagrat: “Você deve ir, ou vou devorá-lo. As noticias devem chegar a Lugbûrz.”
Snaga: “— Não vou descer esses degraus de novo — rosnou Snaga —, seja você capitão ou não. Não! Tire as mãos de sua faca, ou vou enfiar uma flecha em suas tripas. Você não será capitão por muito tempo quando Eles ouvirem sobre tudo o que aconteceu. Lutei pela Torre, contra aqueles ratos fedorentos de Morgul, mas vocês dois, os capitães, fizeram uma bela bagunça lutando pelo espólio.”
A despeito do fato que “capitão” dá uma indicação clara da patente de Shagrat, a citação acima indica uma possível cisma dentro das próprias fileiras de Mordor. Quem são os ratos fedorentos de Morgul? É possível acreditar que seja o grupo de orques oriundos de Minas Morgul.
Não há surpresa de que estas duas variações de orques lutaram entre elas, mas porque Snaga diz “Lutei pela Torre”?
Provavelmente “Torre” é Lugbûrz, a não ser que seja Cirith Ungol, mas da forma como Snaga constrói tal frase, parece indicar que houve alguma contenda entre a Torre Negra e Minas Morgul. Talvez não entre Sauron e os Nazgûl, mas provavelmente entre os próprios orques.
Qualquer que seja a razão há poucas dúvidas de que os Orques do Olho Vermelho eram preferidos em relação a outros orques (ou que, pelo menos, tinham mais destaque). Inclusive pelo fato de que a comitiva que foi ao Portão Negro, escoltando Boca de Sauron, era desta estirpe de orques: “uma pequena companhia de soldados arreados de negro, e uma única bandeira, negra e estampada com o vermelho do Olho Maligno” (O Senhors dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 5, Capítulo X).
Referida companhia de orques era composta de Homens ou Orques (ou ambos)? Não é possível dizer. Contudo, pode-se concluir que, sendo o Tenente de Barad-dûr (um servo de Sauron de alta patente) quem sai portando essa bandeira, há um indício de que tal companhia era superior em importância à de Minas Morgul. Afinal, não se criam símbolos de representação sem que seja necessário... Sem contar o óbvio: o símbolo do Olho Vermelho é uma referência direta ao próprio Senhor do Escuro.
Nós sabemos que outra ordem, a de Minas Morgul, também existia ao tempo do livro, conforme a descrição das armaduras que os orques vestiam quando marchavam contra Minas Tirith: “uma lua desfigurada, representando um rosto fantasmagórico de morte” (O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 6, Capítulo I). Logo, há uma diferença entre o bando de Minas Morgul e o de Barad-dûr.
3.3 Outras ordens
Até agora nos focamos em três ordens do exército de Mordor: Uruks de Mordor, Orques do Olho Vemelho e Orques de Minas Morgul. Não parece haver nenhum escrito exato com relação a esta divisão de orques, que diga que ela existiu – mas há espaço firme para trabalhar nesta divisão.
Claro que há outras criaturas além dos orques: wargs, trols, bestas aladas e outras mais. Os orques, porém, eram a espinha dorsal do exército, enquanto outras raças eram tropas auxiliares.
Convém destacar que Tolkien rascunhou um símbolo que seria destinado às Tropas Aéreas de Mordor.
O Emblema do Corpo Aéreo de Missões Especiais de Mordor é descrito fora de contexto, mas (tendo sido preservado) o design complexo deste emblema o faz único em toda Arda conhecida. Aparentemente era a insígnia que era aplicada às tropas aéreas de Sauron, provavelmente a última encarnação dos Nazgûl e, talvez, qualquer dragão remanescente sob o comando de Sauron. As “asas” ao lado do emblema têm uma textura parecida com penas, o que pode indicar que, inicialmente, eram asas reais. Um rabisco confuso diz “Visto por baixo”, indica que o emblema representa uma das criaturas voadoras de Sauron, e os pequenos “chifres” localizados entre as asas e o corpo da criatura poderiam, então, indicar os pés de alguém montando a fera. Mas se assim for, o retrato deve estar extremamente estilizado. Nas asas é possível ver a imagem dos olhos de Sauron, multiplicado como os olhos nas asas de um pavão.
- Hammond and Scull. J.R.R. Tolkien: Artist and Illustrator. Patterns and Devices
3.4 Homens
A maioria dos homens a serviço de Mordor são conhecidos por serem, em sua maioria, homens de Harad, Orientais, Corsários de Umbar e homens de Khand (que estiveram presentes na Batalha dos Campos de Pelennor durante a Guerra do Anel). Embora sejam parte do exército de Mordor, podem ser categorizados como aliados e, por isso, não ocupam uma posição específica no sistema de hierárquico.
Porém, o serviço deles era altamente afetado pela força e poder das forças de Sauron e, então, eles devem ter tido algum tipo de posição no exército.
Os homens de Harad eram identificados pelo brasão com uma serpente sobre um fundo escarlate.
3.5 Mensageiros, Batedores e Espiões
Em uma terra tão grande quanto Mordor, com um vasto exército e estrutura militar complexa, parece óbvio que o Senhor do Escuro deve ter aplicado um sistema de recebimento de mensagens por meio de seus servos e buscar informações vitais usando espiões.
3.5.1 Mensageiros
Neste ponto, vale relembrar o que foi dito sobre Grishnákh, sendo possível perceber que Sauron realmente usava de mensageiros e, provavelmente, com bastante frequência. Neste caso, ele usou Grishnákh para buscar informações sobre os hobbits capturados e o Um Anel.
Aliás, ele deve ter usado diferentes espécies de orques para transmitir mensagens.
Primariamente, ele empregou os snaga (escravos), menores em estatura que um orque comum (embora Grishnákh claramente não era um deles).
Um exemplo disto pode ser encontrado em As Duas Torres, “As Escolhas de Mestre Samwise”, no diálogo entre Shagrat e Snaga (“Snaga” não era apenas seu nome, mas o tipo de sua espécie – tal como nos é dito depois que ele era um ‘orque menor’).
Os snaga devem ter servido aos propósitos de mandar e receber informações de forma rápida e eficiente.
3.5.2 Batedores
Há apenas uma pequena passagem em O Senhor dos Anéis onde somos apresentados a uma nova classe de atividade designada aos orcs: batedor.
No capítulo “Terra da Sombra” em O Retorno do Rei, um orque caçando a trilha de Frodo e Sam, é descrito como sendo “de uma raça pequena, tinha a pele negra e vinha farejando com as largas narinas: evidentemente algum tipo de batedor”.
Deve haver outro tipo de orques pequenos além dos snaga atuando na condição de batedores e que podem ter sido usados para rapidamente despachar e caçar qualquer espião inimigo dentro de Mordor:
— Agora! — rosnou ele. — Vou para casa. — Apontou através do vale para a fortaleza orc. — Não adianta mais ficar gastando meu nariz em pedras. Não resta nenhum vestígio, estou dizendo. Perdi o rastro seguindo o que você falou. O rastro subiu pelas colinas, não foi ao longo do vale, estou dizendo.
— Vocês, farejadorezinhos, não servem para muita coisa — disse o orc grande. — Acho que olhos são melhores que seu nariz ranhento.
- O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 6, Capítulo II.
Os batedores podem ser considerados como caçadores. Visivelmente hábeis em procurar por quaisquer sinais de interferência de inimigos ou infiltração dentro da terra de Mordor.
3.5.3 Espiões
Não há referências específicas a quaisquer orques ocupando o papel de espiões, embora deva ter sido altamente provável que o Senhor do Escuro os tenha usado (sejam eles orcs ou o que for) para observar os movimentos do inimigo e buscar informação.
Esta missão também poderia ter sido designada para batedores ou mensageiros.
3.6 Escravos
Não há dúvidas de que Sauron usava escravos para fornecer provisões e comida para seus exércitos massivos.
Estes não possuíam nenhuma patente ou qualquer posição de confiança, mas estavam fadados a trabalhar dura pela sua própria sobrevivência:
“Nem ele nem Frodo sabiam coisa alguma sobre os grandes campos de trabalho escravo mais ao sul daquele vasto reino, além da fumaça da Montanha, próximos às águas escuras e tristes do Lago Núrnen; nem das grandes estradas que corriam para o leste e para o sul, levando a terras que pagavam tributo a Mordor, das quais os soldados da Torre traziam longos comboios de carroças com mercadorias, produtos de saques e novos escravos. Ali, nas regiões do norte, havia minas e forjas, e a concentração de tropas para uma guerra longamente planejada; ali o Poder Escuro, movendo Seus exércitos como peças num tabuleiro, os estava reunindo. Seus primeiros movimentos, seus primeiros testes de força, haviam sido feitos sobre a linha ocidental, ao norte e ao sul. Agora os retirara, trazendo novas forças, preparando ao redor de Cirith Gorgor um golpe vingador. E, se também fosse o seu propósito defender a Montanha contra qualquer aproximação, dificilmente poderia ter feito trabalho melhor.”
–O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Livro 6, Capítulo II
4. Sistema de Numeração de Mordor
Algo curioso e bastante interessante é uma frase extraída, novamente, do capítulo “A Terra da Sombra”, no mesmo contexto do diálogo entre o batedor e um Uruk: “— Vou dar seu nome e número para os nazgûl — disse o soldado, abaixando a voz num chiado. — Um deles é o encarregado da Torre agora.”
Será que Sauron designou um número para cada um de seus servos, de movo a viabilizar uma melhor organização e comunicação mais eficiente dentro de seus exércitos? É possível.
Os orques e os Uruks teriam inteligência suficiente para saber seus próprios números de patente e os dos outros? Os capitães de alta patente, como este Uruk, ao menos deveriam estar cientes destes “códigos” usados por orques mais “baixos”, para carregar os relatórios e notícias.
O que é certo é que há mais além do que a superfície das páginas de o Senhor dos Anéis demonstra a um primeiro olhar.
5. Conclusão
Estas são algumas das informações que podemos extrair do Senhor dos Anéis sobre como Mordor deveria estar estruturada e habilmente organizada à época de a Guerra do Anel.
Estas são as ideais e interpretações de James, acrescidas de algumas observações e complementações minhas, numa tentativa de entender o que Tolkien quis transmitir enquanto escrevia o Senhor dos Anéis.
Segue um gráfico resumo com sequência hierárquica do sistema de hierarquia dentro dos exércitos de Mordor.
Bibliografia:
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel.
O Senhor dos Anéis: As Duas Torres.
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.
Os Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média.
O Silmarillion.
[1] Gosto sempre de deixar claro que quando o SdA foi escrito, não havia Silmarillion, não havia os Contos Inacabados e nem nenhuma outra obra de referência ao legendário tinha visto a luz do dia e sido vista pelo grande público. Desta forma, tudo o que era posto pelo narrador era novidade para todos os leitores, que tinham, como única referência, apenas O Hobbit. O resto da “história do mundo” estava apenas dentro da mente do Professor Tolkien e seus manuscritos/rascunhos e, quiçá, seu filho Christopher e, em parte, seria desvelados apenas nos Apêndices de O Retorno do Rei e por meio de cartas.
[2] Em inglês “chefões” é ainda mais significativo: “Top Ones”, ou “aqueles que estão no topo”.
Em primeiro lugar parabéns pela tradução e complemento do texto, eu achei bem interessante a ideia de se debruçar sobre a hierarquia do exército de Sauron. O que foi escrito está bem argumentado, com citações dos trechos, a questão é que o Tolkien descreveu muito mal mesmo vários aspectos ligados a guerra, sendo muitas vezes descrições pouco precisas, como você mesmo citou. Começa pq assim capitão é o patente médio na hierarquia do exército a antigo e a atual. Então logo existirarão vários capitães que comandem seus respectivos pelotões, por exemplo um capitão comanda uma companhia de até 100 homens a quantidade varia um pouco de acordo com país ou no caso ficção que se avalia, sendo que estes cumprem…